sexta-feira, 25 de junho de 2010
— o rio. Guimarães Rosa - A Terceira Margem do Rio
doente dos olhos, doente da boca, dos nervos até.
Dos olhos que viram mulheres formosas
da boca que disse poemas em brasa
dos nervos manchados de fumo e café.
Estive doente estou em repouso, não posso escrever.
Eu quero um punhado de estrelas maduras eu quero a doçura do verbo viver.”
(De um louco anônimo — transcrito por Caco Barcelos na reportagem “Crime e loucura “, publicada na extinta Folha da Manhã, Porto Alegre, RS.)
quarta-feira, 23 de junho de 2010
com seu umbigo de sol e de princípios.
" tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça."
Escrever é sempre deixar de dizer.
Vou continuar, é exatamente da minha natureza nunca me sentir ridícula, eu me aventuro sempre, entro em todos os palcos.
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
E só posso me agregar ao que desconheço...
Construo minha vida na lama. Não vivo sem me sujar, sem me doar ou doer. A dor só é interna e vasta.Não se faz entender por palavras.
Diariamente me presenteio com choques meticulosos na carcaça ameaçada. Eles me fortalecem e me fazem sentir morta-viva. Dão aconchego aos escrúpulos e calam as ponderações. Em mim só se faz delírio!
Sisudez só se dá pra quem não vê. Eu não me revelo por atos. Só por sobressaltos. E se é pra revelar algo oculto eu bem digo que bem logo eu vou submergir e abismar esse corpo cheio de devassidão.Acabarei com os devaneios perturbadores que não se fazem calar! Irei galgar num sobremundo de sutileza e perfeição, onde o nada governará deliberadamente.
Quanto sonho há em mim! Quanto sangue há pra esgotar!
terça-feira, 22 de junho de 2010
Hölderlin
Penso nesses objectos, nessas caixas, nesses utensílios que aparecem às vezes nas despensas, nas cozinhas e em esconderijos, cujo uso já ninguém é capaz de explicar. Que vaidade a de pensar que compreendemos as obras do tempo: ele enterra os seus mortos e guarda as chaves. Só nos sonhos, na poesia, nos jogos - acender uma vela e andar com ela pelo corredor-, é que por vezes nos aproximamos daquilo que fomos, antes de ser isto que não sabemos se somos’
Quem pensa com mais profundidade, ama o que tem mais vida...
mas sempre penso o pior
me cansa essa vida de artista
mas cada vez o prazer é maior
Listinha fofa dos vinte melhores diretores da história co cinema, segundo a Empire:
2. Alfred Hitchcock
3. Martin Scorsese
4. Stanley Kubrick
5. Ridley Scott
6. Akira Kurosawa
7. Peter Jackson
8. Quentin Tarantino
9. Orson Welles
10. Woody Allen
11. Clint Eastwood
12. David Lean
13. Os irmãos Coen
14. James Cameron
15. Francis Ford Coppola
16. Oliver Stone
17. Sergio Leone
18. John Ford
19. Billy Wilder
20. Sam Peckinpah
domingo, 13 de junho de 2010
Jerome K. Jerome
Miedson Fernandes
Fernando pessoa
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir. Viver é não conseguir.
Cecília Meireles
Essa tristeza não viste, e eu sei que ela se vê bem…
Mahatma Gandhi
quinta-feira, 3 de junho de 2010
O Corvo - Edgar Allan Poe
Numa sombria madrugada, enquanto eu meditava, fraco e cansado, sobre um estranho e curioso volume de folclore esquecido; enquanto cochilava, já quase dormindo, de repente ouvi um ruído. O som de alguém levemente batendo, batendo na porta do meu quarto. "Uma visita," disse a mim mesmo, "está batendo na porta do meu quarto - É só isto e nada mais."
Ah, que eu bem disso me lembro, foi no triste mês de dezembro, e que cada distinta brasa ao morrer, lançava sua alma sobre o chão. Eu ansiava pela manhã. Buscava encontrar nos livros, em vão, o fim da minha dor - dor pela ausente Leonor - pela donzela radiante e rara que chamam os anjos de Leonor - cujo nome aqui não se ouvirá nunca mais.
E o sedoso, triste e incerto sussurro de cada cortina púrpura me emocionava - me enchia de um terror fantástico que eu nunca havia antes sentido. E buscando atenuar as batidas do meu coração, eu só repetia: "É apenas uma visita que pede entrada na porta do meu quarto - Uma visita tardia pede entrada na porta do meu quarto; - É só isto, só isto, e nada mais."
Mas depois minha alma ficou mais forte, e não mais hesitando falei: "Senhor", disse, "ou Senhora, vos imploro sincero vosso perdão. Mas o fato é que eu dormia, quando tão gentilmente chegastes batendo; e tão suavemente chegastes batendo, batendo na porta do meu quarto, que eu não estava certo de vos ter ouvido". Depois, abri a porta do quarto. Nada. Só havia noite e nada mais.
Encarei as profundezas daquelas trevas, e permaneci pensando, temendo, duvidando, sonhando sonhos mortal algum ousara antes sonhar. Mas o silêncio era inquebrável, e a paz era imóvel e profunda; e a única palavra dita foi a palavra sussurrada, "Leonor!". Fui eu quem a disse, e um eco murmurou de volta a palavra "Leonor!". Somente isto e nada mais.
De volta, ao quarto me volvendo, toda minh'alma dentro de mim ardendo, outra vez ouvi uma batida um pouco mais forte que a anterior. "Certamente," disse eu, "certamente tem alguma coisa na minha janela! Vamos ver o que está nela, para resolver este mistério. Possa meu coração parar por um instante, para que este mistério eu possa explorar. Deve ser o vento e nada mais!"
Tradução em prosa por Helder da Rocha