quinta-feira, 27 de janeiro de 2011


O meu eu atual, assim como o eu de tempos atrás, esquiva-se de comparações e brada a todos os presentes, mesmo sem o uso de palavras, que evoluiu, que cresceu, que amadureceu. Uma meia-dúzia de alterações superficiais e essa fina e delicada carcaça de adulto que me reveste não são o bastante para que eu me prive de ser quem eu realmente sou. Eu sou aquela por detrás da carcaça. É fina, é leve, mas é pesada o suficiente para que às vezes eu me veja na obrigação de deixá-la de lado para respirar um pouco de ar puro. E há 8, 9, 15 anos atrás, tudo era exatamente igual. Mudou apenas o cenário, a circunstância e a intensidade com que eu sinto isso. Hoje sou capaz de sentir mais, e não sei até que ponto isso pode ser bom, ou até mesmo, saudável. Eu pensava sobre as mesmas coisas, da mesma forma, com o mesmo negativismo perene que sempre andou de mãos dadas com minha esfuziante que distrai a maioria. Tudo mudou sem nada mudar. Muito mudei sem nada mudar. E isso nunca foi tão óbvio como agora. É inegável como a verdade pode ser brutal às vezes. Só da pra admirá-la. Geralmente passamos a vida acreditando em nós mesmos. "Eu tô bem", dizemos. "Tá tudo bem." Mas às vezes a verdade pega no pé e não tem santo que faça desgrudar. É aí que percebemos que às vezes ela nem chega a ser uma resposta, mas sim uma pergunta. Mesmo agora, estou aqui pensando até que ponto minha vida é convincente. Tropeçamos uns nos outros, à procura de sentir alguma coisa. Iludimo-nos momentaneamente. Fingimos ser felizes. Depois, o vazio. Em raras ocasiões, algo nos modifica as sensações e sentimo-las a quererem saltar do coração pela boca, num desespero de se libertarem. Mas não permitimos. Temos demasiado medo do que sentimos. É assustador darmo-nos a alguém que nos deseja pelo que realmente somos. É legítimo, parece-me. É que magoa tanto quando deixamos os sentimentos libertarem-se e nos apaixonamos sem medos. Pior ainda. É escandalosa a dor que se apodera da nossa alma quando corremos esse risco e depois quem foge não somos nós. Será que o mundo será sempre feito destas fugas? Quantos de nós continuam a preferir sentir a dor do que sentir o vazio? Não sei quais são os mais loucos. Nem me interessa. Tenho saudades. E dor. Muita dor.

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